Os Eternos Culpados
"A ONU pró-judeus criou o Estado de Israel sem levar em conta os interesses dos povos daquela região". "É Israel que vive invadindo os territórios alheios e recebe justa retaliação por isso". "Israel é a culpada pela situação de violência na região".
Essas são algumas dos argumentos distorcidos, fatos históricos pervertidos, ou puras e simples mentiras que, infelizmente, são lugar-comum no pensamento de milhares de pessoas no Ocidente. E geralmente quem profere alguma dessas frases costuma ter total convicção de sua veracidade. Como dizia mesmo Cazuza? "Suas idéias não correspondem aos fatos".
Por primeiro, querer definir a quem pertence a região, tentando descobrir quem estava lá primeiro é um método já desacreditado. Pelo simples motivo de que, se fosse válido, esse método valeria para qualquer país, qualquer povo. Mas ele é lembrado somente em relação à Israel-Palestina.
Mesmo que fosse um método válido, já não resolveria o problema, pois desde tempos imemoriais a região teve habitantes ancestrais de judeus e de árabes. Houve ondas de imigração constantes; a população das etnias flutuava ao longo dos séculos, conforme o império dominante da vez.
Mas se algum defensor do método "quem estava lá primeiro" insistir na tese, devemos perguntar a essa pessoa se deveríamos então devolver as Américas aos descendentes dos índios, ou até mesmo aos europeus, nos casos em que esses colonizaram regiões desabitadas no continente.
Superado esse método, devemos nos concentrar em a partir de quando começaram os conflitos entre judeus e árabes naquela região. Pois, em nenhum momento da História deixou de haver judeus naquela região, hoje reivindicada com exclusividade pelos árabes-palestinos. Conclui-se que, a partir de uma certa época, a presença dos judeus deixou de ser tolerada. Em que circunstâncias se deu isso?
A Região
A Palestina, na época da I Guerra Mundial, era o nome de uma região muito maior do que Israel é hoje, incluindo parte dos atuais Síria, Iraque, Arábia Saudita e todo o Líbano, sendo dominada pelo Império Otomano. Ou seja, havia árabes e judeus na região, mas quem detinha o poder político eram os turcos. Ao fim da I Guerra, com a extinção do Império Otomano, a região ficou sob administração da Inglaterra e foi dividida em Transjordânia e Cisjordânia (onde havia significativa população judaica).
Os Povos
O anti-semitismo não é fenômeno novo. Na era contemporânea, ele já foi registrado em 1860 (!), sendo mais ou menos forte há séculos. Houve cinco grandes ondas de imigração judaica retornando para a Palestina, as três últimas depois da I Guerra, quando o anti-semitismo cresceu muito em toda a Europa. Com a ascensão do Nazismo, o número de judeus retornando, comprando terras, cresceu tanto que os árabes da região se ressentiram. Recém-libertos dos turcos, os árabes-palestinos queriam o estabelecimento de um novo país. Mas se a imigração continuasse, eles teriam de dividir esse país com a população judia, que já em 1936 somava meio milhão de pessoas. Eles queriam eleições imediatas, enquanto ainda fossem maioria.
Primeiros conflitos
Para isso, começaram com uma greve geral, recusa em pagar impostos, seguida de ataques aos oficiais britânicos que administravam a Palestina e aos judeus. Essa foi a Grande Revolta árabe de 1936-1939.
Esse conflito acirrou e dividiu ainda mais a coexistência dos dois povos; a vida econômica dos dois povos, antes entremeada, tornava-se mais e mais independente devido às construções de portos, mercados e outros entrepostos separados para cada povo.
Na segunda parte, a guerra de independência e as reais intenções dos demais países árabes sobre a criação da Palestina.